PRÁTICAS EDUCATIVAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM
FOCO NA TEMÁTICA DA ÁGUA
PRÁCTICAS EDUCATIVAS DE
EDUCACIÓN AMBIENTAL ENFOCADAS EN LA TEMÁTICA DEL AGUA
EDUCATIONAL PRACTICES OF ENVIRONMENTAL
EDUCATION FOCUSING ON THE THEMATIC OF WATER
Caroline Beck
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Rosangela Inês Matos Uhmann
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Recibido: 31 de julio
de 2021
Aprobado: 15 de octubre de 2021
Publicado: 31 de diciembre de 2021
Cita sugerida: Beck, C. y Matos Uhmann, R. I. (2022). Práticas educativas de educação ambiental com foco na temática da água. Revista de la
Escuela de Ciencias de la Educación, 1(17), 152-170.
RESUMO
O
objetivo desta pesquisa, foi investigar como as práticas educativas de Educação
Ambiental (EA) com foco na temática da água estão sendo abordadas em pesquisas
na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) sem demarcação
de período, usando-se o descritor: “Educação Ambiental”, constituindo-se em uma
pesquisa de abordagem qualitativa. Por conseguinte, foi feita uma nova busca
usando-se o descritor: “Água” em cada uma das pesquisas selecionadas, na
intenção de encontrar práticas educativas de EA com foco na água. As quais
foram analisadas com base nas perspectivas de EA crítica e de EA
transformadora/emancipatória de Loureiro (2003, 2006, 2020). Como resultado,
obtivemos 10 dissertações, com práticas variadas, desde jogos até saídas de
campo. Quanto as perspectivas, foi encontrado predominância na perspectiva
crítica, a qual, está intimamente ligada ao uso de jogos e de questionário,
sendo as principais práticas encontradas nas pesquisas. Dessa maneira,
conseguimos compreender as práticas educativas de EA com as respectivas
perspectivas. Logo, entendemos ser fundamental, a função dos educadores, no
espaço escolar, como mediador do conhecimento, a fim de, proporcionar de forma
crítica, as transformações individuais e coletivas, juntamente da emancipação
do indivíduo a favor das questões ambientais.
Palavras-chave: Recursos hídricos –
Práticas de ensino – Perspectivas – Educação Ambiental – Espaço escolar.
RESUMEN
El
objetivo de esta investigación fue investigar cómo las prácticas educativas de
Educación Ambiental (EA) enfocadas en el tema del agua están siendo abordadas
en la investigación en la Biblioteca Digital Brasileña de Tesis y Disertaciones
(BDTD) sin demarcación de período, utilizando el descriptor: “Educación
Ambiental”, constituyendo una investigación con enfoque cualitativo. Por tanto,
se realizó una nueva búsqueda utilizando el descriptor: “Agua” en cada una de
las encuestas seleccionadas, con la intención de encontrar prácticas educativas
de EA con enfoque en el agua. Los cuales fueron analizados a partir de las
perspectivas de EA crítica y EA transformadora/emancipadora de Loureiro (2003,
2006, 2020). Como resultado, obtuvimos 10 disertaciones, con prácticas
variadas, desde juegos hasta excursiones. En cuanto a las perspectivas, se
encontró un predominio en la perspectiva crítica, que está estrechamente ligada
al uso de juegos y cuestionarios, siendo las principales prácticas encontradas
en las investigaciones. De esta forma, pudimos comprender las prácticas
educativas de la EA con sus respectivas perspectivas. Por tanto, entendemos que
el rol de los educadores en el espacio escolar es fundamental, como mediador
del conocimiento, para brindar de manera crítica transformaciones individuales
y colectivas, junto con la emancipación del individuo a favor de la
problemática ambiental.
Palabras
clave:
Recursos hídricos – Prácticas docentes – Perspectivas – Educación Ambiental –
Espacio Escolar.
ABSTRACT
The purpose of this
research was to investigate how Environmental Education (EE) practices focusing
on the water theme are being addressed in research in the Brazilian Digital
Library of Theses and Dissertations (BDTD) without period demarcation, using
the descriptor: “Environmental Education”, constituting a research with a
qualitative approach. Therefore, a new search was made using the descriptor:
“Water” in each of the selected surveys, with the intention of finding
educational practices of EE with a focus on water. Which were analyzed based on
the perspectives of critical EE and transformative/emancipatory EE of Loureiro
(2003, 2006, 2020). As a result, we obtained 10 dissertations, with varied
practices, from games to field trips. As for the perspectives, a predominance
was found in the critical perspective, which is closely linked to the use of
games and questionnaires, being the main practices found in the researches. In
this way, we were able to understand the educational practices of EE with their
respective perspectives. Therefore, we understand that the role of
educators in the
school space is fundamental, as a mediator of knowledge, in order to critically
provide individual and collective transformations, together with the
individual's emancipation in favor of environmental issues.
Keywords: Water resources – Teaching practices – Perspectives –
Environmental Education – School space.
INTRODUCCIÓN
A Educação Ambiental (EA) se instituiu no Brasil a partir das décadas de
70 e 80 como um campo complexo, plural e diverso (Lima, 2009), com o propósito
de pesquisar e buscar respostas aos problemas nas relações entre a humanidade e
o meio ambiente. Contudo, podemos notar que se trata de um campo relativamente
novo, as pesquisas realizadas na área tiveram uma investigação maior a partir
dos anos de 1990, onde tem-se enfatizado a necessidade de realizar um
aprofundamento teórico e metodológico na área da EA (Mello; Trivelato,
1999).
Sendo um novo campo de ensino, a EA vem
procurando reformular respostas teóricas e também práticas para a crise
socioambiental que está acontecendo em nosso Planeta. Diante disso, o ensino de EA pode ajudar para
sensibilizar a sociedade quanto aos problemas ambientais, além, de proporcionar
mudanças de hábitos e de comportamentos que são prejudiciais ao meio ambiente.
Sendo assim, a EA também pode ser entendida: “[...] como ação educativa que
contribui para a formação de cidadãos conscientes na preservação do meio
ambiente, tornando-se aptos a tomar decisões individuais e coletivas sobre
questões ambientais necessárias para o desenvolvimento de uma sociedade
sustentável” (Uhmann; Oliveira, 2019, p. 146).
E dentre os vários problemas ambientais que o
Planeta enfrenta, a problemática da água é de extrema importância, visto que a
água é essencial à vida de todas as espécies. O que requer entendimento sobre o
ciclo hidrológico, principalmente a respeito da água que está cada vez mais
ameaçada pela ação antrópica, devido ao crescimento demográfico,
desenvolvimento econômico e demasiada extração dos recursos finitos.
O Brasil possui 13% do total mundial de água
doce do mundo, porém sua distribuição não é uniforme em todo o território
nacional, com isso “[...] mais de 40 milhões de brasileiros não recebem água
potável, ou seja, não podem confiar na qualidade da água que chega nas suas
casas e vivem num fornecimento irregular da água” (Rebouças, 2003, p. 342). Nesse
sentido, buscar conhecer medidas legais e políticas públicas, fazem com que a
sociedade possa cobrar leis e uma melhor gestão dos governantes, a fim de,
contribuir para a preservação dos recursos hídricos (Souza; Moraes, 2016).
Dentro desta ótica, uma das formas de abordar
a temática da água é através de práticas educativas de EA, incorporada nas
escolas. No entanto, cabe também ao poder público tomar iniciativas de gestão e
fiscalização dos bens públicos, a exemplo da água. Nessa perspectiva, Uhmann e Zanon
(2012) apontam: “[...] é na escola, instituição formadora, que se formam
responsabilidades com o cultural e ambiental na direção de cuidados para a
perpetuação da vida na terra” (p.14).
À vista disso, é importante que se busque
pesquisar e entender mais sobre esse campo de ensino que constitui a EA.
Salientamos que, na maioria das vezes, as práticas em EA são trabalhadas nas
escolas com uma perspectiva muito fragmentada, geralmente ligadas a coleta
seletiva de lixo. Entretanto, essas práticas podem ser desenvolvidas de
diversas formas, voltadas mais para a sustentabilidade, podendo trabalhar como,
por exemplo, os recursos hídricos e o saneamento básico.
Destacamos, que essas ações ao serem
desenvolvidas sob uma perspectiva crítica podem de fato possibilitar mudanças
estruturais, nas diferentes esferas, sejam elas, ambiental, social, política,
econômica e cultural (Sauvé, 2016). Sendo assim, trabalhar a EA de forma
crítica nas escolas, proporcionará o processo de reflexão e compreensão, para
entendermos a crise ambiental e a partir disso, ter autonomia para buscar a
transformação social.
A educação ambiental
crítica, é aquela que em síntese busca pelo menos três situações pedagógicas:
a) efetuar uma consistente análise da conjuntura complexa da realidade a fim de
ter os fundamentos necessários para questionar os condicionantes sociais
historicamente produzidos que implicam a reprodução social e geram a
desigualdade e os conflitos ambientais; b) trabalhar a autonomia e a liberdade
dos agentes sociais ante as relações de expropriação, opressão e dominação
próprias da modernidade capitalista; c) implantar a transformação mais radical
possível do padrão societário dominante, no qual se definem a situação de
degradação intensiva da natureza e, em seu interior, da condição humana
(Loureiro, 2013, p.64).
Atualmente a
pressão sobre o meio ambiente é pautada pelas regras da perspectiva
capitalista, em que a ação antrópica foca em estratégias voltadas a um
crescimento perpétuo do desenvolvimento focado no progresso. Urge abandonarmos
a arrogância de ser humano que decide o que tem valor, para uma cultura
ampliada e compartilhada com os demais seres vivos que possuem os mesmos
direitos de sobrevivência. Necessitamos de uma gestão que em sua aplicação
impõe uma ontologia que pense na redução do desenvolvimento como crescimento
econômico a qualquer custo, visto que precisamos discutir mais sobre os
entendimentos do mundo e natureza.
Também cabe ressaltar, que a perspectiva
transformadora é aquela que possui um conteúdo emancipatório onde “[...] a
dialética entre a forma e o conteúdo se realiza de tal maneira que as
alterações da atividade humana, vinculadas ao fazer educativo, impliquem
mudanças individuais e coletivas” (Loureiro, 2006, p. 89). É imprescindível, que a EA critica,
transformadora e emancipatória estejam inseridas em todo o ambiente escolar, de
modo que, nos auxilie a desenvolver uma compreensão, capaz de servir como base
para a reflexão sobre os problemas ambientais, e assim, possibilitar que sejam
pesquisadas estratégias de reversão do processo de exploração do meio ambiente.
Nesse âmbito, estudar a EA é de fundamental
importância, pois, indica sugestões e propostas pedagógicas centradas na
mudança de comportamento, na conscientização, no pensar e refletir, na
capacidade e participação dos educandos, além, de proporcionar o aumento de
conhecimentos, estimulando a integração e equilíbrio dos indivíduos com o meio
ambiente.
Para tanto, com esta pesquisa que tem por
princípio elevar entendimentos sobre a EA, buscamos analisar as dissertações e
teses encontradas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT),
investigando quais são as práticas educativas com foco na EA nos respectivos
trabalhos acadêmicos? E como estão relacionadas à temática da água?
A
partir das questões norteadoras, nossos objetivos tiveram por princípio
investigar como as práticas educativas de EA com foco na
temática da água estão sendo abordadas nas pesquisas publicadas no IBICT,
bem como, verificar as perspectivas de EA com base em Loureiro (2003, 2006,
2020) presentes nas práticas educativas, em atenção às relacionadas com a água.
Na sequência é apresentado o procedimento metodológico utilizado nessa
pesquisa.
DESARROLLO
Procedimiento
metodológico
Esta pesquisa do tipo documental foi
desenvolvida seguindo a abordagem qualitativa, conforme descrito por Lüdke e André
(1986). Para as autoras (1986, p.15):
[...] a
investigação passará por três etapas, a exploração, decisão e descoberta”,
constituindo-se: “[...] em escolhas de documentos e posterior análise, buscando
informações a partir de hipóteses ou questões de interesse, após a
caracterização de documento, a codificação, os registros, a categorização e a
análise crítica (p.38).
Dessa maneira, iniciamos esta pesquisa a
partir da análise nas teses e dissertações publicadas na BDTD do IBICT sem
demarcação de período, com a indicação: “assunto”, usando o descritor:
“Educação Ambiental”, para o qual encontramos 25 pesquisas. Por conseguinte,
foi feita uma nova busca usando-se o descritor: “Água” em cada uma das
pesquisas por meio da ferramenta “Ctrl” mais “F”, na intenção de encontrar
práticas educativas de EA com foco na água, no qual foram encontradas 10
dissertações nominadas de D1 a D10 apresentadas no Quadro 01.
Para tanto, os dados encontrados foram
analisados com base nas perspectivas crítica e transformadora/emancipatória do
professor pesquisador Carlos Frederico Bernardo Loureiro (2003, 2006, 2020),
sendo assim, buscamos identificar as perspectivas em suas ideias representadas
em livros e artigos.
A perspectiva crítica, constitui um discurso
que acredita na prática como via para enfrentar os problemas ambientais. O
conhecimento é preparado como base para uma reflexão sobre os problemas
ambientais, e com isso, compreendermos as alternativas de reversão dos
processos de exploração do meio ambiente. Deste modo, a perspectiva crítica
busca entender a realidade do sujeito, compreendendo o processo histórico da
sociedade, analisando cada ação (Loureiro, 2003, 2006, 2020).
Na perspectiva
transformadora se propõe mudanças radicais na sociedade, e no padrão civilizatório
com o simultâneo movimento de transformação subjetiva e das condições
objetivas. Dessa forma, dispõe de um conteúdo emancipatório, em que a dialética
entre conteúdos e formas se efetua tanto que realiza alterações nas ações
humanas, ligadas a educação, provocando mudanças tanto coletivas como
individuais, em aspectos
que regem a sociedade, como a economia e a cultura (Loureiro, 2003, 2006, 2020).
A EA transformadora
constitui em: “[...] fazer com que os diversos setores sociais incorporem a práxis
ambientalista, ressignificando a, e tornem a Educação Ambiental uma política
pública democrática consolidada nacionalmente” (Loureiro, 2003, p.14).
Igualmente, procura ações para modificar as relações de dominação e as
desigualdades sociais existentes na sociedade capitalista. A seguir
apresentamos os resultados obtidos permeado pela discussão e reflexão, no qual
os excertos das pesquisas estão escritos em itálico.
Resultados e Discussões
Identificamos a partir deste estudo, a importância da EA como tema
transversal de fundamental importância para a sensibilização dos educandos e
cidadãos preocupados com o meio ambiente, afim de adquirir uma consciência que
visa melhorar e construir uma sociedade sustentável.
Sendo assim, o trabalho da EA nas escolas precisa
perpassar por todas as disciplinas de forma interdisciplinar, para que possa
atingir o máximo de pessoas, a fim de aumentar o entendimento da questão
ambiental com um tema transversal, como por exemplo, os problemas que estão
inseridos no nosso cotidiano, a exemplo da temática da água, temos, poluição de
rios, lagos, e o saneamento básico, aspectos estes que atingem diretamente o
ser humano. Assim, os professores junto de seus alunos se encarregam a pensarem
medidas de preservação e conservação desse recurso, podendo utilizar práticas
educativas voltadas a percepção da realidade local e global, além de promover
estímulos para a criação de hábitos e atitudes quanto ao uso racional da água.
O que nos motivou a analisarmos pesquisas que
tratam da EA (apresentadas no Quadro 01) para problematizarmos a questão, e
assim, entendermos as respectivas perspectivas baseadas nas ideias de Loureiro
(2003, 2006, 2020).
Quadro 1
Referência completa das dissertações
encontradas no IBICT
Referência |
|
D1 |
Valentin, L. (2005). Projetos de
educação ambiental no contexto escolar: concepções e práticas.
Dissertação (Mestre em Educação) – Curso de Pós-Graduação em Educação do
Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, Rio Claro, Brasil. |
D2 |
Taniguti, M. S. (2006). Capacitação de agentes multiplicadores para a semana
da água 2005: concepções
e práticas de educação ambiental. Dissertação
(Mestre em Educação Ambiental) – Curso de Pós-Graduação em Educação – Área de
Concentração em Educação Ambiental- do Instituto de Biociências da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro, Brasil. |
D3 |
Santos, H. M. da S. (2007). O projeto de
educação Ambiental Aprendendo com a Natureza como ponto de partida para uma
ação formativa de professores do Ensino Fundamental. Dissertação (Mestre
me Educação para a Ciência) - Curso de Pós-Graduação em Educação para a
Ciência, Área de Concentração em Ensino de Ciências, da Faculdade de
Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru,
Brasil. |
D4 |
Llarena, M. A. A. (2009). O estudo do meio como uma alternativa
metodológica para abordagem de problemas ambientais urbanos na educação
básica. Dissertação (Mestre em Geografia) – Curso de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil. |
D5 |
Sanches, E. (2009). Formação de
educadores ambientais: desafios de uma práxis educativa. Dissertação
(Mestre em Educação) - Curso de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação
da Universidade de Brasília, Brasília, Brasil. |
D6 |
Ananias, N. T. (2012). Educação
Ambiental e água: concepções e práticas educativas em escolas municipais.
Dissertação (Mestre em Educação) - Curso de Pós-Graduação em Educação, da
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, Brasil. |
D7 |
Pereira, A. R. S. (2015). Às águas que
nos nutrem, conectam e ensinam: uma pesquisa-ação no Parque Olhos D’água,
Brasília, DF. Dissertação (Mestre em Educação) - Curso de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Educação, na área de concentração Educação Ambiental e
Educação do Campo. Linha de Pesquisa: O comportamento ecológico no contexto
socioambiental brasileiro: relações e inter-relações, Brasília, Brasil. |
D8 |
Rocha, C. F. dos S. (2018). Torneio virtual para o desenvolvimento de práticas
no ensino sobre a temática água. Dissertação (Mestre em
Recursos naturais e tecnologia) - Curso de Pós-Graduação da Universidade
Federal de Pernambuco, como parte das exigências do Mestrado Profissional em
Rede Nacional para o Ensino das Ciências Ambientais, Recife, Brasil. |
D9 |
Silva, E. G. da. (2019). Estratégia
educacional com base na captação e reutilização da água no ambiente escolar e
social. Dissertação (Mestre em Ensino das Ciências Ambientais) – Curso de
Pós-Graduação em Rede Nacional em Ensino das Ciências Ambientais da
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil. |
D10 |
Silva, M. M. da. (2019). Aplicativo
sobre água e saúde: uma proposta educativa para o ensino das ciências
ambientais. Dissertação (Mestre em Ensino das Ciências
Ambientais) – Curso de Pós-Graduação em Rede Nacional para Ensino das
Ciências Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil. |
Fonte: elaborado pelos autores
Das 10
pesquisas retiramos excertos, assim como identificamos as práticas educativas
intrínsecas com foco na EA. Por conseguinte, investigamos nas pesquisas a fim
de encontrar as respectivas perspectivas crítica e transformadora/emancipatória
de Loureiro (2003, 2006, 2020) organizadas no Quadro 2.
Quadro 2
Excertos com foco na água, respectivas
práticas e as perspectivas
Excertos |
Práticas |
Perspectiva |
|
D1 |
“Nestes cartazes encontravam-se as
seguintes frases: ‘Não gaste energia elétrica e não gaste água” (p.59) |
Filmes, cartazes, jogos,
questionário |
Crítica |
D2 |
“[...] apresentaram três produções
cinematográficas de curta-metragem que abordavam aspectos relativos a água”
(p.51) |
Vídeos, palestras |
Crítica |
D3 |
“No caso do estudo das bacias
hidrográficas, as maquetes são também um ótimo recurso para se identificar os
divisores de água, a direção da drenagem e os diferentes componentes da rede
hidrográfica, que são conceitos fundamentais para se discutir o uso e o
manejo dessas áreas” (p.119) |
Palestras, maquetes |
Crítica |
D4 |
“Após a discussão inicial dos professores
com os alunos da turma escolhida para a realização do trabalho (8° ano A),
estes optaram, depois da rejeição de alguns, por abordar a questão da
Comunidade do Timbó como área de risco ambiental, situação que tem na água um
componente exponencial” (p.114) |
Saída a campo, cartazes, vídeos |
Transformadora/ Emancipatória |
D5 |
“O jardim das Águas compreendeu três
encontros extras onde foram realizadas três aulas de campo: a turma da manhã
fez a opção de conhecer a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Melchior e as
formas de tratamento das águas residuais” (p.136) |
Oficinas ecopedagógica, saída a campo |
Transformadora/ Emancipatória |
D6 |
“O tema água é um assunto constantemente em
pauta no cotidiano dos cidadãos, abordado por diversas mídias, segmentos
sociais e presente em documentos curriculares, legislações, em livros
didáticos e objeto de propostas pedagógicas” (p.20) |
Leitura de texto |
Crítica |
D7 |
“A presente pesquisa objetivou refletir
sobre o desenvolvimento de práticas educativas, a partir da construção e do
aprofundamento de uma matriz ecopedagógica da água, compreendendo a relação
entre humano e ambiente” (p.13) |
Jogos, trilha ecológica |
Transformadora/ Emancipatória |
D8 |
“Na tentativa de minimizar os complexos
problemas envolvendo a temática água, a educação é fundamental para promoção
de uma conscientização ambiental efetiva e crítica.” (p.15) |
Torneio Virtual de vídeos |
Crítica |
D9 |
“Através da temática água o educador pode
estimular medidas de conservação e preservação, ações socioambientais que
irão favorecer as gerações futuras” (p.13) |
Jogo de tabuleiro, questionário |
Crítica |
D10 |
Aplicativo online, questionário |
Crítica |
Fonte: elaborado pelos autores
Como observado no Quadro
02, encontramos as perspectivas na proporção 7:10 que tem em seu contexto a
perspectiva crítica, e 3:10 contemplam a perspectiva
transformadora/emancipatória.
Identificamos também, que
as práticas educativas com foco na temática da água são variadas, obtendo-se
jogos, trilhas ecológicas, filmes, cartazes, saídas de campo, questionários,
aplicativo online, torneio virtual de vídeos, entre outros. Como também
podemos observar abaixo no Gráfico 1:
Gráfico 1
Práticas educativas com foco na temática água
Fonte: elaborado pelos autores
Para
tanto, entendemos que as práticas educativas relacionadas a EA são essenciais
no contexto formativo, uma vez que, influenciam no modo de conhecer a concepção
de EA de cada indivíduo. Dessa maneira,
é necessário entender como a EA é trabalhada em distintos contextos e conhecer
as práticas educativas relacionadas a temática da água nas respectivas
pesquisas. A prática educativa da água ajudou a politizar os envolvidos, já que a
crítica seria da (des) vinculação do sujeito com o social, ambiental.
Assim, a
pesquisa D10 teve como objetivo desenvolver um protótipo de aplicativo online para
ser usado pelos alunos em seus celulares, descrito assim: “[...] apresentamos um
protótipo do aplicativo educacional móvel sobre questões Ambientais
interdisciplinares relacionadas à água, às agressões à saúde das populações e à
saúde ambiental” (Silva, 2019, p.8). Após usarem o aplicativo, os alunos
tiveram que responder um questionário sobre o design, navegação e as atividades realizadas. Dessa forma, D10 foi
relacionada a perspectiva crítica, por propor por meio de um aplicativo de
celular, que os alunos aprendessem sobre os problemas da água e saúde, fazendo
atividades nesse aplicativo, e posteriormente discutindo essas questões
ambientais com os demais colegas e professores. Em vista disso, temos o
excerto:
E é justamente na escola,
um campo de atuação para formação de cidadãos conscientizados sobre os
problemas ambientais que os cercam, que os estudantes buscam novas soluções
para as problemáticas do ambiente. A responsabilidade em aumentar a criticidade
dos estudantes quanto aos atuais e possíveis crimes ambientes, por exemplo,
necessita de maior participação dos usuários nas discussões (Silva, 2019,
p.32).
Nesse âmbito, para Gomes (2014): “[...] a EA crítica proporciona
aos indivíduos tornarem-se membros ativos deste processo de mudança,
inicialmente de forma individual depois de forma coletiva” (p.6). Ressaltamos
ainda, que uma EA crítica sensibiliza os educandos para os problemas ambientais
que existem atualmente na sociedade, e trabalhar conteúdos por exemplo em
relação a temática da água, associados ao cotidiano poderá auxiliar para a
formação de sujeitos mais reflexivos e críticos. Loureiro (2002) salienta que:
Uma pedagogia crítica e
ambientalista deve saber relacionar os elementos sociohistóricos e políticos
aos conceitos e conteúdos transmitidos e construídos na relação
educador-educando, de modo que evite um trabalho educativo abstrato, pouco
relacionado com o cotidiano dos sujeitos sociais e com a prática cidadã (p.80).
Outra metodologia
utilizada que aparece em D1, D9 e D10 são os questionários, os quais servem
principalmente para compreender as concepções dos educandos sobre EA e os
problemas ambientais. No entanto, o uso do questionário se apresenta como uma
ferramenta fácil para identificar as percepções dos alunos, pois,
posteriormente é respondido e entregue ao professor. Um exemplo de como o
questionário foi utilizado em D10, estão as questões que abordaram aspectos
sobre a percepção dos educandos em relação aos problemas ambientais,
estratégias adotadas por moradores e professores para lidar com os riscos e
vulnerabilidade socioambiental, e também estratégias do poder público para
minimizar problemas ambientais. As respostas serviram como base para o
desenvolvimento das atividades do aplicativo citado acima. Nesse sentido, cabe
ressaltar, que o uso do questionário precisa ser trazido para a discussão com
os alunos, caso contrário, serve somente como base de levantamento de dados.
Para
melhor aproveitamento das atividades de ações da EA é preciso integrar a
entrevista, por se tratar de uma técnica de desenvolvimento aberta ao diálogo
com reflexão crítica individual e coletiva, ampliando assim o tema transversal
da EA.
Em relação a
pesquisa D8, foi realizado um torneio virtual de ciências, que visava
solucionar problemas ambientais do cotidiano. Para isso, foi utilizado as redes
sociais mais especificamente o Youtube,
a competição realizada foi composta por desafios, porém, nesse estudo foram
analisados apenas quatro desafios:
1) Utilizar um microcontrolador arduíno (ou
semelhante) para construir um equipamento para combater o desperdício de água
nas residências; 2) Criar um projeto que permita o reaproveitamento de águas
residuais domésticas; 3) Montar um experimento para aproveitamento da energia
solar; 4) Realizar uma campanha de coleta de pilhas comuns usadas, garantindo a
destinação adequada do material coletado (Rocha, 2018, p.8).
Para tanto, cada
atividade realizada pelos alunos foi gravada em forma de vídeo e postada na
plataforma digital para posteriormente serem avaliadas. Dessa forma, na
pesquisa também foi encontrado traços da perspectiva crítica, quando a autora
relata que o torneio foi importante na aprendizagem dos alunos sobre a EA, a partir
da solução dos desafios “[...] tornando-se assim um grande aliado nas práticas
pedagógicas para despertar a consciência crítica e formar cidadãos mais
conscientes para o uso sustentável dos recursos naturais” (Rocha, 2018, p.8).
Nesse sentido, Loureiro (2019) destaca: “O tipo de trabalho crítico é aquele em
que a atividade é meio para problematizar, conhecer e transformar, e não
finalidade” (p.62).
Neste sentido, é preciso problematizar a questão do uso de um
microcontrolador (pesquisa D8), no sentido de que a tecnologia não vai resolver
todos os problemas ambientais, ou seja, é preciso ressaltar a luta histórica da
EA que vem se movimentando contra os interesses corporativos. Precisamos nos
integrar mais nas lutas sociais e ambientais de forma individual e coletiva,
cobrando também do poder público ações de gestão de preservação do ambiente.
Diante do exposto,
percebemos que somente as duas primeiras atividades são relacionadas com a
temática água, o primeiro desafio, o qual, propõem combater o desperdício de
água e o segundo voltado ao reaproveitamento de água, questões essas que são
muito importantes. Entretanto, além de fazermos nossa parte economizando e não
desperdiçando água, é preciso compreender os demais fatores que influenciam
tanto na escassez como na qualidade das águas.
Neste
sentido, Tundisi (2008) considera que no vasto contexto social, econômico e
ambiental do século XXI, os principais processos e problemas da crise da água
são a intensiva urbanização, aumentando a demanda da água, estresse e escassez
de água em muitas regiões do planeta, em razão de mudanças globais com eventos
hidrológicos extremos, problemas de articulação e falta de ações consistentes
na governabilidade de recursos hídricos, além de, muitas áreas urbanas terem
infraestrutura em estado crítico. Sob ótica semelhante, Goulart; Callisto
(2003) apontam:
Nas últimas décadas, os
ecossistemas aquáticos têm sido alterados de maneira significativa em função de
múltiplos impactos ambientais advindos de atividades antrópicas, tais como
mineração; construção de barragens e represas; retilinização e desvio do curso
natural de rios; lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados;
desmatamento e uso inadequado do solo em regiões ripárias e planícies de
inundação; superexploração de recursos pesqueiros; introdução de espécies
exóticas, entre outros (p.2).
Cabe destacar, que
o consumo irracional da água e a produção em grande escala de monoculturas, por
exemplo, causam impactos negativos na água, visto a utilização excessiva de
agrotóxicos, os quais, consequentemente acabam poluindo os rios e as nascentes.
Junto a esse impacto negativo temos a extração demasiada de recursos finitos,
bem como o consumo irracional de produtos descartáveis, justamente porque o
sistema capitalista potencializa a venda e produtos descartáveis, induzindo as
pessoas ao consumo induzido.
A respeito da
pesquisa D6, buscou-se investigar e avaliar como o tema água é abordado no
contexto da EA nas escolas municipais de ensino fundamental, bem como, discutir
a questão da água como conteúdo essencial para a formação do aluno. Sobre as práticas educativas encontradas, a
autora da pesquisa D6 cita as discussões e reflexões sobre a importância de não
desperdiçar água, consumo racional e atitudes responsáveis com relação ao uso
da água, também, a leitura de textos informativos sobre a temática da água.
Outro ponto
importante, relatado pela autora, que foi encontrado na pesquisa, é que, muitas
vezes as atividades relacionadas a EA nas escolas estão atreladas a datas
comemorativas, como por exemplo trabalhar a temática da água no “Dia da Água”,
não que seja errado, entretanto, poderia ser discutido a questão da água outras
vezes, no sentido de debater sobre a ligação do conteúdo com todas as
disciplinas com foco na EA. Vale destacar que nessa investigação os docentes
acreditam ser importante trabalhar com a temática água, porém, não se tem um
aprofundamento teórico, apenas com relação aos hábitos e atitudes ao uso
racional da água em suas casas e na escola.
Diante disso,
percebemos ser essencial trabalhar com o tema da água principalmente nas
escolas, instituição propulsora de conhecimentos, discutindo-se a realidade
exposta, como a questão dos problemas ambientais relacionados aos recursos
hídricos, bem como, a importância do ciclo hidrológico. Neste contexto, os professores
são os protagonistas no processo de ensino sobre os aspectos sociais,
políticos, econômicos, culturais, históricos, e, principalmente da temática
ambiental, na medida:
[…] em que a EA faça parte
do contexto escolar em cada área de saber, os estudantes passam a ter
conhecimentos associados com atitudes de preservar e fiscalizar ambientes,
recursos hídricos (águas), solo, atmosfera, com escolhas responsáveis tanto em
relação ao consumo, quanto no descarte de materiais, com cuidado permanente
frente às formas de poluição e degradação ambiental (Uhmann, 2011, p. 111).
Todavia, a EA precisa ser compreendida como um
processo de mudança social, e principalmente de compreensão das relações da
sociedade com o meio ambiente em que vivemos. Nesse sentido, Uhmann et al.,
(2018, p. 254) vão além ao dizer: “Primar pela EA é considerar os problemas
socioambientais e a partir disto, problematizar os mesmos, para assim
viabilizar possíveis mudanças, sejam elas no contexto da educação, na
comunidade ou outro”. É importante salientar que a EA não diz respeito a um
método capaz de resolver todos os problemas ambientais que acontecem no Brasil
e no mundo. Porém, a EA é fundamental para o desenvolvimento pessoal e social
dos cidadãos, fazendo a diferença junto aos cidadãos no meio em que estão
inseridos. A EA, então, ao ensinar para a cidadania, constrói a possibilidade
da ação política, a fim, de contribuir para formar uma sociedade responsável, a
qual, se torna responsável pelo mundo em que habita (Sorrentino, 2005). Sendo
assim, por meio da EA buscamos principalmente a solidariedade, igualdade,
cidadania e respeito, por meio de formas democráticas, como práticas
educativas, interativas e dialógicas.
Cabe destacar, que
as dissertações D1, D7 e D9 trouxeram os jogos como prática educativa, os
quais, são muito utilizados como métodos de ensino nas escolas, visto que,
auxiliam de forma lúdica os alunos, trazendo benefícios para as práticas, bem
como para a aprendizagem, entretanto, alguns aspectos precisam ser
considerados, isto é:
[...] para serem utilizados
com fins educacionais, os jogos precisam ter objetivos de aprendizagem bem
definidos e ensinar conteúdo das disciplinas aos usuários, ou então, promover o
desenvolvimento de estratégias ou habilidades importantes para ampliar a
capacidade cognitiva e intelectual dos alunos (Savi; Ulbricht, 2008, p. 2).
Nesse sentido, a
pesquisa D9, elaborou um jogo de tabuleiro sobre a captação e reutilização da
água, onde, por meio das cartas foram contextualizados temas como captação de
água da chuva, características hídricas e reutilização, bem como estratégias
para economizar a água. O autor de D9 explica: “As informações estão ocultas em
cartas, e devem ser desvendadas durante as jogadas, quando um pino estiver
sobre uma imagem, o jogador deverá retirar uma das informações e ler para todos
os integrantes da partida” (Silva, 2019, p.35). Esse jogo teve como
objetivo permitir o envolvimento dos educandos com a temática da água, e assim,
formar estudantes com senso crítico, sendo capazes de opinar em ações tanto de
interesses públicos como particulares, de caráter ambiental.
Partindo do viés da
perspectiva transformadora/emancipatória, a qual, é essencial para promover
mudanças individuais e coletivas, buscando ações que possam mudar as
desigualdades sociais que existem na sociedade. E a partir do diálogo, almejar
a liberdade e a autonomia dos agentes sociais, por uma influência
transformadora, formando cidadãos aptos a conviver em sociedade, e preparados a
decidir como essa sociedade precisa ser. Entretanto, Loureiro afirma que: “O
diálogo em si não emancipa, mas sim o processo social que toma o diálogo como
pressuposto e exigência prática, instituído pelos agentes sociais em seus
movimentos transformadores na sociedade, materializando as mudanças sonhadas”
(Loureiro, 2019, p. 54).
A práxis educativa
transformadora é, portanto, aquela que fornece ao processo educativo as
condições para a ação modificadora e simultânea dos indivíduos e dos grupos
sociais; que trabalha a partir da realidade cotidiana visando a superação das
relações de dominação e de exclusão que caracterizam e definem a sociedade
contemporânea (Loureiro, 2003 p.42).
Em relação ao
exposto, a pesquisa D4 trabalhou como alternativa metodológica a abordagem de
problemas ambientais urbanos. Nesse sentido, foi abordado o entorno da escola
em que foi realizada esta pesquisa, sendo discutido a problemática da poluição
das águas nos bairros e a poluição da sub-bacia do rio Timbó, lugares estes,
que são localizados perto dessa escola.
Em vista disso, foi sugerido aos alunos realizarem um trabalho sobre os
problemas ambientais urbanos relacionados a qualidade da água no bairro, sendo
assim, os alunos optaram por trabalhar com uma comunidade que tem sérios
problemas, como esgoto a céu aberto e poluição das águas. Na saída de campo
para visitar essa comunidade, os alunos tiveram que observar o local e fazer um
registro no “caderno de campo” sobre as condições ambientais do lugar.
O trabalho a campo
proporcionou o contato direto com a área de encostas que sofrem deslizamentos
na época de chuvas fortes, e também com a poluição da sub-bacia do rio Timbó.
Contudo, foi feita a sistematização das informações, observações em campo de
forma dialógica. Por fim, os alunos apresentaram o trabalho, por meio de um
painel com as fotos que foram tiradas, assim como cartazes com fotos, textos
explicativos e vídeos.
Na pesquisa D5
foram realizadas diversas oficinas ecopedagógicas, como por exemplo, a de
produzir sabão com óleos de cozinha, no entanto, vamos dar enfoque as oficinas
em relação a temática da água. Para estas oficinas foram realizadas aulas a
campo com três turmas, a primeira para conhecer uma estação de tratamento de
esgoto, e suas formas de tratamento das águas residuais. A segunda turma
escolheu conhecer uma chácara, onde se é feito, por meio de um sistema
permacultural a captação e o aproveitamento da água da chuva e redução do
consumo de água. Esta saída a campo teve como objetivo mostrar aos alunos as
tecnologias sustentáveis desenvolvidas por meio da permacultura relacionadas ao
saneamento ambiental, produção de alimentos, coleta e armazenamento da água da
chuva, entre outros. A autora destaca no excerto: “A avaliação desta aula a
campo, pelo grupo, foi muito positiva, pois possibilitou que os participantes
conhecessem ações conscientes e responsáveis, voltadas para a construção de
sistemas humanos mais sustentáveis” (Sanches, 2009, p.139).
Pensando na
importância das saídas a campo, destacamos que a prática educativa facilita a
interação dos educandos com a natureza em situações reais, aguçando a busca
pelo saber (Viveiro; Diniz, 2009), também possibilita as transformações em
nossas formas de olhar para o meio ambiente, proporcionando aos alunos a
sensação de ser protagonistas de seu próprio ensino, motivando-os a buscarem
por medidas de preservação e conservação dos recursos naturais.
As trilhas
ecológicas também são excelentes práticas educativas, que podem ser utilizadas
pelos professores, as quais instigam a capacidade de observação e reflexão dos
alunos, podendo trabalhar com os conceitos ecológicos fora da sala de aula.
Logo, as trilhas são aliadas para o desenvolvimento da EA no sentido de
incentivar o aprendizado, bem como, a sensibilização, ao proporcionar um
contato direto com a natureza.
Desse modo,
encontramos na pesquisa D7 a sugestão de trilha em um parque ecológico, no
qual: “[...] os alunos identificarão cada elemento que compõe e favorece a
formação de um ambiente ecologicamente equilibrado. Reconhecendo sua
importância para a preservação da água (Ex. Matas, destinação correta do lixo,
gestão da nascente” (Pereira, 2015, p.45). Nesse contexto, as trilhas podem
contribuir na formação dos educandos em relação a sensibilização, não somente
sobre a água, mas vários problemas ambientais.
Sabemos que são diversos os desastres
ambientais que estão ocorrendo, a exemplo temos a pandemia (2020), os quais,
ocorrem, por fenômenos da natureza, ou pela ação do próprio ser humano. Tais
problemas, como a proliferação de um vírus, a poluição do ar, rios, lagos,
poluição do solo, desmatamento e as queimadas irregulares desencadeiam vários
fatores que prejudicam a natureza afetando a qualidade de vida de todos os
seres vivos. Deste modo, Sauvé (2005) aponta:
Não existe vida sem os ciclos de recursos de matéria e energia. A
educação ambiental implica uma educação para a conservação e para o consumo
responsável e para a solidariedade na repartição equitativa dentro de cada
sociedade, entre as sociedades atuais e entre estas e as futuras (p.317).
Neste cenário, pensando nesta e nas gerações
futuras é essencial trabalharmos sobre a problemática da água, a qual, sabemos
que se trata de um recurso natural primordial para todos os seres vivos, pois,
necessitamos de água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para
nossa saúde e também para propiciar o desenvolvimento econômico, o que, a torna
um tema relevante a ser discutido, considerando-a um mecanismo de mediação de
conflitos ambientais mundiais.
Todavia, é notório
o fato que a água é um componente imprescindível da natureza, sustenta a vida,
e, é o recurso natural que dinamiza e estimula todos os ciclos ecológicos, sem
água a vida na terra seria impossível. Além disso, é utilizada para várias
atividades humanas, como por exemplo, a produção de alimentos, navegação,
produção de energia elétrica, desenvolvimento industrial, agrícola e econômico,
além, de ser também um solvente universal.
No entanto, a água
é um bem finito, em razão do mau uso dos recursos hídricos pelos seres humanos.
E a disponibilidade desse recurso ainda é consideravelmente abundante devido ao
ciclo hidrológico que tem o poder de renovação, não deixando a escassez de água
ser mais grave.
[...] o ciclo hidrológico
pode ser influenciado em graus diversos pela atividade humana. Com efeito, o
ser humano age diretamente sobre o processo de transformação da água de várias
formas: a construção de reservatórios, o transporte de água para a indústria, a
captação de águas freáticas para irrigação, drenagem, correção de cursos
d’água, utilização agrícola dos solos, urbanização, etc. são exemplos da
intervenção humana com efeitos evidentes no ciclo da água (Bourotte, 2014,
p.132-133).
Desse modo, é essencial, compreendermos que,
apesar de no Brasil termos bastante água, muitas regiões do planeta ainda
sofrem com a escassez de água doce. Além disso, cabe destacar que o uso de
agrotóxicos, por exemplo, vai contaminando a água como um caminho sem volta.
Diante disso, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que um
bilhão de pessoas não tem acesso ao abastecimento de água suficiente. Conforme
a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico:
Estima-se que o país possua
cerca de 12% da disponibilidade de água doce do planeta. Mas a distribuição
natural desse recurso não é equilibrada. A região Norte, por exemplo, concentra
aproximadamente 80% da quantidade de água disponível, mas representa apenas 5%
da população brasileira. Já as regiões próximas aos Oceano Atlântico possuem
mais de 45% da população, porém, menos de 3% dos recursos hídricos do país
(ANA, 2017, p.1).
Sendo assim, trabalhar a temática da água no
ambiente escolar, utilizando práticas educativas voltadas a percepção sobre a
questão se torna imprescindível nos dias atuais, pois, os educandos ao se
apropriarem dos conhecimentos sobre os recursos hídricos, vão começar a se
questionar e também perceber outros aspectos, tais como, como as pessoas estão
utilizando a água potável, quais os problemas relacionados a distribuição de
água. Sendo a EA, uma excelente maneira para construir novos jeitos de pensar e
conhecer, tentar e buscar alternativas para os dilemas ambientais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A EA é uma área relativamente nova, que está em ampla expansão, visto
que, representa uma possibilidade de unir com responsabilidade os seres humanos
com a natureza. Este estudo auxiliou no entendimento de como as pesquisas com
foco na EA encontradas na BDTD do IBICT estão relacionadas com uma temática tão
importante como a da água, bem como, encontrar nas práticas educativas as
perspectivas crítica e transformadora/emancipatória. Assim, estudos como este, podem
contribuir para a compreensão de como esta temática está sendo trabalhada no
cenário educacional brasileiro.
Desta forma, foi possível encontrar a EA nas
pesquisas ao identificar as perspectivas na proporção de 7:10 voltada a
perspectiva crítica, e 3:10 relacionada a perspectiva
transformadora/emancipatória. A perspectiva crítica que contém o maior número
de práticas educativas, procura, fazer com que as pessoas identifiquem e
conheçam o ambiente em que vivem, para que tomem consciência dos fatos que são
os causadores dos problemas no meio ambiente, mostrando que nem sempre foi
assim, e que não precisa continuar sendo. Para tanto, foram encontradas
diversas práticas importantes, como os jogos didáticos, palestras, filmes,
cartazes, maquetes, questionário e vídeos, respectivo a esta perspectiva.
Enquanto a perspectiva
transformadora/emancipatória que busca por transformações e indivíduos com mais
autonomia foi encontrada práticas educativas voltadas as saídas de campo e
trilhas ecológicas. Cabe destacar que
essas perspectivas se interligam, pois, é preciso ter um pensamento crítico, ou
seja, um entendimento das perspectivas críticas e transformadora/emancipatória
para se ter uma transformação social.
Portanto, concluímos que, a temática da água
está presente nas dissertações brasileiras, bem como, nas práticas educativas,
e pode ser trabalhada de diferentes formas, e assim, esta pesquisa poderá
incentivar, e auxiliar os professores a trabalhar com esse tema com mais
frequência nas escolas.
Enfim, acredito que está pesquisa também
ajudou a entender mais sobre a importância da EA e da temática da água, bem
como, em pensar como futura professora e educadora ambiental, as possibilidades
de trabalhar a EA, sob a perspectiva crítica, transformadora e emancipatória,
pois, a EA, precisa ser incluída na prática dos professores, visto que, ela é
extremamente importante para nossa vida.
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