‘CINECONVERSAS’ – CRIANDO CURRÍCULOS COM FILMES DE MIGRAÇÃO
Marcelo
Ferreira Machado*[*]
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
mar_chado@hotmail.com
Maria Morais**[†]
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
mariamoraiss@yahoo.com.br
Noale Toja***
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
noaletoja22@gmail.com
Recibido:
13/08/2019 Aceptado: 7/02/2020
Resumo
Ao percebermos a potência dos
usos dos filmes e da produção audiovisual como dispositivos fomentadores de
conversas, catalisadores de ideias, sensações, sentimentos, fomos tecendo ‘conhecimentosignificações’ e pudemos
agregar outros valores para a pesquisa, como a ludicidade, a criatividade e o
compartilhamento.
Trazer o tema ‘migração’, por
meio de filmes, questão urgente nos tempos atuais, nos aproxima desses
acontecimentos com sensibilidade, incorporando-os às nossas realidades, já que
compreendemos esses processos migratórios como as relações vividas por cada um
de nós e pelos nossos familiares, seja vindo de outros países, vindo de outros
estados, cidades, bairros, diferentes territórios, guetos, facções, culturas,
sentimentos. Essas sensações podem nos aproximar de realidades criadas nas
diferentes redes educativas que formamos e que nos formam. Ao tratar de migração
ou refúgio com Cineconversas, metodologia
desenvolvida no grupo de pesquisa, lidamos
com artefatos e componentes curriculares, criamos um caminho de aproximação
entre limites e fronteiras a que estamos submetidos o tempo todo como migrantes
ou estrangeiros em diferentes situações da vida cotidiana.
Palavras chaves: Migração -
Redes Educativas – Cotidianos – Cineconversas
- Cinema.
Resumen
Cuando nos dimos cuenta del
poder de los usos de las películas y la producción audiovisual como
dispositivos que fomentan conversaciones, catalizadores de ideas, sensaciones, sentimientos, comenzamos a
tejer `conocimentossignificaciones` y
pudimos agregar otros valores para la investigación, como el lúdico, la
creatividad y el compartir.
Traer el tema 'migración' a través
de películas, un tema urgente en los tiempos actuales, nos acerca a estos
acontecimientos con sensibilidad, incorporándolos a nuestras realidades, ya que
entendemos estos procesos migratorios como las relaciones experimentadas por
cada uno de nosotros y nuestros miembros de la familia, ya sea de otros países,
de otros estados, ciudades, barrios, diferentes territorios, guetos, facciones,
culturas, sentimientos. Estas sensaciones pueden acercarnos a las realidades
creadas en las diferentes redes educativas que formamos y que nos forman.
Cuando se trata de migración o refugio con Cineconversaciones,
una metodología desarrollada en el grupo de investigación, tratamos con
artefactos y componentes curriculares, creando un camino de aproximación entre
límites y fronteras a los que estamos sujetos todo el tiempo como migrantes o
extranjeros en diferentes situaciones de la vida cotidiana.
Palabras clave: Migración -
Redes educativas – Cotidianos – Cineconversaciones
- Cine.
Abstract
The planet is today in the largest humanitarian crisis recorded by
history and a large part of the worlds population is in displacement for
extreme reasons, in search of survival.
Moreira alerts us to the fact that human mobility is a global phenomenon
and of great dimensions. With Alves, we approach the topic in the context of
the educational networks, because it is a way to know about the subject and to
demystify prejudices. For that, Bobbio warns us that prejudice is an erroneous
opinion. With Deleuze we think of cinema as a potente cultural artifact in
conversations with students and in order to awareness them to a fact that is
often part of the family history of each of us. And with Dubois, we bring the
video as a device of questioning in the image-art tension provoking in the spectators the
feeling of alterity.
Key words: Refugees - Educational Networks - The Daily Ones
– Cineconversation - Movie.
Caminhar... Conversar...
O que é
caminhar? Seria a mobilidade, a locomoção na qual nos pomos quando necessitamos
nos deslocar de um ponto a outro? Um deslocamento que nos faz romper
fronteiras, limites e medos? Caminhar pode ser, assim, um encorajamento. É nos
colocar como andarilhos em busca de algo que, na condição de migrantes ou
refugiados, nos permite entrar em `espaçostempos[‡]`1 desconhecidos.
Esta
expressão caminhar... foi extraída do filme Em busca do Ouro, de Chaplin
(1925), ‘vistoouvidosentidopensado’ em
uma sessão de Cineconversas. Na
película, há um movimento migratório em busca de trabalho e ouro no Alasca, em
que um dos personagens, falando dos conflitos nesses processos migratórios, diz
que, as pessoas se põem a caminhar, caminhar, caminhar e a esperar, esperar,
esperar, e que, na maioria das vezes, poucos conseguem desfrutar da ideia do
ouro tão esperado.
O que é conversar?
Onde reside a “potência do falso” (Deleuze, 2005)? Quem são os “personagens
conceituais”[§] 2, (Deleuze; Guattari, 1992) que, como intercessores,
no caminhar e conversar, fabricam diversas fabulações com ‘discentesdocentes’? Como os ‘usos’ (Certeau, 2014) de filmes como
artefatos curriculares, podem revelar as relações cotidianas tramadas nas
múltiplas redes educativas que formamos e nas quais nos formam (Alves, 2015)?
Essas
indagações atravessam nossa caminhada nesses ‘fazeressaberes’ no GRPesq
“Currículos, redes educativas, imagens e sons”, na linha de pesquisa
“Cotidianos, Redes Educativas e Processos Culturais”, que pesquisa atualmente[**]3 as relações entre processos curriculares e movimentos migratórios, no
Programa de Pós-graduação em Educação (ProPEd),
na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
Quando nos
colocamos em ‘conversa’ com Alves, Certeau, Deleuze, Guattari, Maturana e
outros autores, trazemos para as pesquisas nos/dos/com
os cotidianos, sentimentos, gestos, conflitos, sorrisos, palavras,
indagações, imagens, sons, cheiros, toques, gostos, pensamentos, porque todos
esses elementos são intrínsecos aos ‘praticantespensantes’ dos cotidianos
(Oliveira, 2012).
Desenvolvemos
em nosso grupo de pesquisa a ideia daquilo que chamamos de cineconversas4[††], ao assistirmos
filmes que trazem a temática da migração, por exemplo, e conversarmos com as
questões cotidianas que, inspiradas por esses filmes, são apresentadas pelo
grupo estamos pondo em prática essa metodologia. As narrativas cinematográficas
estimulam ‘conversas’ acerca dos processos que costuram os diferentes ‘dentrofora’ das escolas.
Currículos e Movimentos Migratórios
Dentre
tantas questões sociais, estamos nos debruçando desde 2017 até o presente
momento, aos movimentos migratórios, buscando entender como estes se transformam
em questões curriculares nas escolas. Os movimentos migratórios são inspirações
poéticas para sentir os currículos como movediços, e não algo estático e
enrijecido. É pensar o currículo como um caminhar… esperar… caminhar…, e romper
as fronteiras e limites do desconhecido. É ‘sentirpensar’ o currículo como uma pedagogia do encorajamento, numa ideia de pedagogia do atrevimento. Uma razão insolente para uma razão
indolente, (Santos, 2002) e da ousadia e da crítica (Freire; Shor, 1987).
Temos o
interesse de, a partir das distintas redes educativas, compreender os processos
pelos quais situações sociais complexas – no caso a intensa migração de seres
humanos, que por múltiplas razões, diferentes conflitos, pobreza e mudanças
ambientais – se transformam em experiências curriculares. Este projeto de
pesquisa se desenvolve em dois movimentos: primeiro, a realização de ‘cineconversas’, com filmes que mostram
ondas migratórias no mundo, em escolas de alguns municípios do estado do Rio de
Janeiro, dos quais participam docentes e discentes em formação. As ‘conversas’
– presenciais e on line em torno de possibilidades e necessidades curriculares
com o tema migração, se desenvolvem acerca de narrativas, imagens e sons usadas
nos filmes, que nos servem como “personagens conceituais”. As ‘conversas’ são o
lócus principal da pesquisa, são um encontro de pensamentos, gestos e afetos. O
segundo movimento, consiste na realização de oficinas de criação de vídeos
acerca da questão mobilizadora – migração – com a participação de docentes em
exercício e discentes em formação para a docência. Os dois movimentos acontecem
como cursos de extensão.
Nesta
pesquisa, somos fios na tessitura de uma rede plural e de múltiplas
investigações envolvidas na compreensão de diferentes cotidianos e de tantas
outras redes educativas. Por estar em conversas com essas diversidades, há uma
profusão de noções, ideias e autores que, ao mesmo tempo, nos permitem a
abordagem de questões que se articulam em ações e processos
epistemológicos-teóricos-metodológicos. Assim indicamos as seguintes ideias e
processos: a multiplicidade dos cotidianos; a existência de diferentes redes de
‘conhecimentossignificações’; a
infinidade de criação de processos culturais nos tantos ‘espaçostempos’; a ideia da existência de processos miúdos e sua
visibilização, necessárias à vida humana; a compreensão de que os aprendizados
não são processos estanques e que vão se modificando ao longo da vida, das
políticas e memórias sobre ‘práticasteorias’
educativas; a existência de tantos ‘dentrofora’
das escolas; os inúmeros contextos de formação docente, em tantos outros ‘espaçostempos’, nas diversificadas ‘práticasteorias’ éticas, estéticas e
políticas; os processos emancipatórios criados e vivenciados nos ‘fazeressaberes’ ordinários; a dimensão
estética da existência na criação de si; as rupturas pós-estruturalistas e
pós-colonialistas; o entendimento da presença de artefatos culturais em
processos curriculares; os processos identitários dos ‘praticantespensantes’ dos cotidianos; os valores como conhecimentos
para a ação; o reconhecimento do Outro como um legítimo outro nas necessárias
lutas de re-existência; narrativas docentes, singularidades e currículos criados
nos cotidianos; crianças, jovens e adultos, de sua mais diferente origem, seja
racial, étnica, territorial e religiosa, como sujeitos ativos criadores de si e
do mundo; a valorização dos usos das imagens, sons e fabulações nos seus
diversos planos, da mediação/criação das culturas educacionais como narrativas
que atravessam todos as relações sociais contemporâneas.
Por isso,
nossa pesquisa em educação, tratando das questões da migração, pretende
entender a aproximação do tema mobilizador - migração - com os cotidianos nos ‘fazeressaberes’ escolares, no sentido
de criar a partir da produção epistemológica-metodológica das ‘Conversas’, usando as cineconversas como dispositivo de sensibilização e
reflexão acerca das questões sociais complexas, em
que as
narrativas por meio de imagens e sons (os filmes) nos colocam numa condição de
críticos, de alteridade, acessando memórias e criando afetos.
As cineconversas, como dispositivo de
sensibilização e reflexão, se dá pela afetação ao assistir a um filme e em
seguida, conversar acerca das afetações provocadas por essa narrativa que
envolvem os diferentes elementos da linguagem cinematográfica (imagem composta
pela luz, enquadramentos, movimentos de câmera; relação espaçotempo como ritmo e ordenação na montagem; o som com sua ambiência sonora, trilhas e músicas; e por fim, a
abordagem temática, com o argumento e roteiro) e ainda, a forma como essa
narrativa é percebida por cada pessoa, de acordo com sua particular história de
vida
Costumamos
dizer que assistimos aos filmes para além do sentido da visão, por isso
agrupamos as palavras ver, ouvir, sentir e pensar (filmes vistosouvidossentidospensados), com a ideia de não dicotomizar as
sensações e compreendendo, ainda, que ao assistir a um filme, ele conecta todos
os nossos sentidos e memórias, acessando assim as questões complexas abordadas
nas narrativas.
A temática
migração é uma dessas questões complexas que, como quaisquer outras, dentro de
sua complexidade, na pesquisa com os cotidianos, não carece de um
aprofundamento teórico nos seus aspectos antropológicos ou das ciências sociais,
no sentido de investigar suas causas ou impactos, mas sim, buscar entender, no
presente, nos acontecimentos cotidianos, como são criadas as relações entre os
migrantes que chegam a uma escola e aqueles que os acolhem, neste ambiente
educacional; e como estas relações se transformam em componentes (artefatos)
curriculares.
Migrantes ou Refugiados?
É
frequente, nos tantos cotidianos em que vivemos, tecermos ‘conversas’ em torno
das diferenças entre refugiados e migrantes, tentando entender quais são as motivações
ou particularidades que distinguem aqueles que decidiram/precisaram se mover na
Terra. Nos mais variados ‘espaçostempos’ observamos
conversas acerca de notícias de refugiados da Síria, da Venezuela e de tantos
outros lugares, territórios... E o que sabemos sobre essas pessoas?
Os livros e as aulas de
geografia nos/dos/com os cotidianos
escolares estão repletos de ideias sobre os migrantes/refugiados. De modo muito
geral, podemos dividir essas ideias em dois grandes blocos, sabendo que isto é
uma grande simplificação de uma séria questão social. O termo migrante se
refere a toda pessoa que muda seu lugar de residência para outro por um tempo
indeterminado. Essa busca geralmente é motivada por razões sociais,
principalmente em busca de emprego. Ao refugiado é atribuído um conceito que
está associado ao verbo refugiar (fugir, abrigar-se, escapar). O termo é usado
com referência ao indivíduo que, devido a uma perseguição política, religiosa,
ocasião de guerras, catástrofes ambientais ou ainda, uma situação outra na qual
sua vida esteja em risco, ele se vê obrigado a solicitar refúgio em país
estrangeiro.
Os seres humanos desde sempre
migraram por vontade própria ou de forma obrigatória. Desde as transumâncias
iniciais, grupos humanos se movimentavam por questões climáticas - temperaturas
que variavam durante o ano, em regiões temperadas e frias; falta ou presença de
água, nas regiões tropicais. Guerras locais também levaram a grandes
movimentações. A busca econômica de mercadorias diversas aparece, com grande
expressão, na Modernidade. Crises econômicas, como a falta de emprego que
trazem grandes movimentações
populacionais. No entanto, no presente,
um número enorme de pessoas se move no planeta porque essas situações todas
estão se somando[‡‡]5. É, por isto, que Moreira (2017) nos diz que:
A atual
mobilidade humana no planeta atinge dimensões impressionantes e traz
consequências absolutamente novas para os povos e ecossistemas do planeta. Ela
está nada menos do que reconfigurando a humanidade. Basta mencionar os
processos culturais de desenraizamento e deslocamento, de crises econômicas e
identitárias; os conflitos étnicos, culturais e religiosos; as hibridizações,
as fusões e os sincretismos; a exportação de gostos, costumes, valores e
mercadorias; a profunda transformação na percepção de espaço e tempo; as
mudanças na percepção de si, do outro e do mundo (Moreira, 2017, p. 8).
Entendemos assim que migração
é o movimento dos seres humanos nos mais variados ‘espaçostempos’, pelos mais variados motivos e desde que o mundo é
mundo. Foram criados alguns adjetivos para esse termo tão discutido no
contemporâneo: pendular, sazonal, temporária, definitiva, espontânea e forçada.
Compreendemos o processo migratório como um fluxo natural, muitas vezes de perspectiva
individual, que passa pela realização de sonhos, aspirações de uma vida melhor,
um novo emprego, aprender uma língua ou uma cultura diferente. E outras vezes
são situações mais ásperas, criando fluxos ainda maiores: como o caso de secas,
estagnação socioeconômica, falta de oportunidades de emprego e outros. Os
motivos são múltiplos, o caso mais comum no Brasil foi o êxodo rural das
décadas de 1950/1960 do nordeste para o eixo Rio-SP.
Virilio
(2009) aponta informações que são relevantes para entendermos melhor esses
processos migratórios atuais:
Últimas notícias.
Em 2008, trinta e seis milhões de pessoas foram
deslocados de seu lugar de origem, por razões climáticas, catástrofes
naturais, conflitos. Um bilhão de pessoas estão previstas para os próximos
cinquenta anos. Um bilhão de pessoas que vão se movimentar. Toda a situação do
mundo vai ser perturbada. Perturbada pela crise de localização. As sociedades
antigas estavam inscritas em um território, a terra natal. Hoje, elas estão à
deriva por razão de deslocalização do emprego, por causa de conflitos que não
acabam nunca. E, também, evidentemente, pela grande questão climática: o
desaparecimento de arquipélagos, a submersão de litorais. É toda a história que
se coloca a andar. É toda a história que se joga na estrada. Um bilhão de
pessoas que se movem em meio século, nunca existiu antes (Virilio, 2009, p. 7
apud Alves, 2017, p. 3).
Observamos
assim que a migração forçada é o conceito que mais se aproxima da ideia de
refugiados. Para Milesi (2003) os refugiados são tão antigos quanto a
humanidade, no entanto, foram muitas vezes ‘esquecidos’ nos relatos e nunca
soubemos de fato quais foram as movimentações e os impactos em sua vida
cotidiana, assim, em texto com Marinucci, afirmam que:
sabemos a existência
de guerras, conflitos, imperialismo, colonialismo, perseguições políticas e
religiosas, que perpassam a caminhada histórica de todo os povos. Infelizmente,
as informações nem sempre se referiam as consequências que tais acontecimentos
causaram a vida cotidiana das pessoas. Mesmo assim, sabemos que houve
refugiados e deslocados em todas as épocas da história da humanidade. (Marinucci
e Milese, 2003, p. 13).
Na
contemporaneidade os refugiados se tornaram assuntos de relevância. Diferentes
dos migrantes, a movimentação em situação de refúgio é, na maioria das vezes,
uma decisão momentânea e não um projeto de vida. Existe uma latente necessidade
de fugir, de sobreviver e nem que seja preciso passar por situações de perigo,
como os refugiados do norte da África que atravessam o mar Mediterrâneo em
botes, famílias inteiras que andam pelo Oriente Médio e pela Europa buscando
uma nova oportunidade de viver.
O grande desafio da nossa
sociedade é conseguir criar um modo mais igualitário. Para Milton Santos esse
movimento é necessário porque “o acontecer próprio a um lugar não é indiferente
ao acontecer próprio a um outro lugar, exatamente pelo fato de que qualquer que
seja o acontecer é um produto do movimento da sociedade total". No
entanto, as relações tão desiguais entre os países eclodem em consequências tão
desumanas, destroem cidades inteiras, causam rupturas familiares e precisamos
conversar acerca disso. É vital para a humanidade, para as relações sociais
estabelecer conversas sobre nosso destino comum.
Acreditamos que precisamos de
políticas que garantam para os migrantes, sejam refugiados ou não, sua
cidadania em novos territórios. Propiciar à sociedade uma forma de reconhecer o
Outro, como um legítimo outro nas suas diferenças, como afirma Maturana (2002),
na criação de narrativas de enfrentamento aos preconceitos de xenofobia[§§] 6. Para Bobbio (2002):
O
preconceito é uma opinião errônea, no entanto, trata-se de um erro mais tenaz e
perigoso do que qualquer outro, pois é um erro que corresponde a sentimentos e
interesses de um grupo em relação a outro. Assim, o preconceito é uma
predisposição em creditar como verdade algo que é um interesse ou um sentimento
irrefletido. (Bobbio, 2002, p. 103 apud
Andrade, 2006, p. 99).
Nós, da
pesquisa com os cotidianos, não queremos reduzir ou simplificar a questão do refúgio, mas
tentamos compreender que no ambiente educacional e nas inúmeras redes
educativas, o que nos importa é nos aproximar das relações criadas entre
aqueles que chegam e aqueles que acolhem, percebendo as situações de
estrangeirismos de ambos os lados. Portanto, para nós dentro dos acontecimentos
(Deleuze; Guattari, 2002)[***]7 (Foucault, 2005)[†††] 8, o que nos interessa é entender com quais astúcias, bricolagens, usos de diferentes
artefatos como a linguagem, a
cultura etc, criam ‘conhecimentossignificações’ e pautam outras agendas de conversas
acerca da crescente necessidade de
criação de políticas públicas que regulamentem, acolhem, criem currículos, para
atender essas questões sociais complexas.
Compreender
o processo de desterritorialização (Deleuze; Guattari, 1997), que submete as
pessoas a deixarem seus territórios, pertences, culturas, ‘conhecimentossignificações’ que dominam, é tentar entender os tracejados das linhas de fuga que essas
pessoas desenham, criando brechas, saídas, para um outro viver. Ao se
desterritorializar pensando na perspectiva geográfica e afetiva, as pessoas
saem de seus lares, seus campos de acomodação, para criar outros modos de
sobrevivência, com adaptações culturais, sociais e psicológicas necessárias.
Para
Deleuze e Guattari (1997), esse movimento de desterritorialização é a
capacidade de criação de outra existência, no sentido de evidenciar as
potências que se fragilizam ou estagnam pela territorialização, que mantém
padrões ou condicionamentos. Nesse sentido, desterritorializar, transcende ao
movimento de saída de um território para a ocupação de outros ‘espaçostempos’ na medida que o processo
migratório é longo e repleto de caminhadas e esperas, de certezas e incertezas.
Este será inventado com suas memórias, e mais que isso, com o despertar de
outras capacidades e possibilidades de reexistência. Assim, os mares, oceanos,
matas, não são limites ou obstáculos, eles fazem parte do território a ser deixado
ou a ser conquistado, como plano de imanência, um plano de pensamento sobre seu
modo de viver que será tecido numa rede de relações independentes, de
diferentes grupos ou organizações, com uma liberdade e mobilidade, que muitas
vezes o sistema político engessa, controla e dificulta as saídas. Assim Deleuze
e Guattari (1997) nos ajudam a pensar esta questão, dizendo:
Vimos, todavia,
que a terra não cessa de operar um movimento de desterritorialização in loco, pelo qual ultrapassa todo
território: ela é desterritorializante e desterritorializada. Ela se confunde
com o movimento daqueles que em massa deixam seu território. [...] Os
movimentos de desterritorialização não são separáveis; os territórios que se
abrem sobre um alhures e os processos de reterritorialização não são separados
da terra que restitui territórios. (Deleuze; Guattari, p.113) [...] A
desterritorialização de um tal plano não exclui uma reterritorialização, mas a
afirma como a criação de uma nova terra está por vir. (Deleuze; Guattari, p.117).
Com
a pesquisa nos/dos/com os cotidianos, nos interessa entender essa operação dos
movimentos de desterritorialização como movimento político, crítico e de
criação nas relações em coordenações consensuais de coordenações consensuais de
ações (Maturana, 2002) num espaço singular e coletivo de
linguajeio-narrativas-risos, olhares, escutas, cumplicidade, conflitos e
afetos.
Cineconversas: O cinema,
narrativas, conversas e os processos da migração como artefatos curriculares
Para Deleuze, cinema e realidade não são duas instâncias distintas. O
cinema é descrito como “uma possibilidade, uma potência do real” (Guerón, 2011,
p. 13), ou como “fabulações, uma potência do falso” (Gonçalves; Head, 2009).
Gomes (2008) acredita que existe um pensamento positivista de que filmes são as
janelas da realidade, sendo
‘reprodutores da realidade’. No entanto, para Deleuze e o próprio Gomes isso
seria impossível, já que o real é incriável, ele apenas existe. Assim, existe uma
segunda perspectiva de Gomes (2008) de que a imagem no cinema não copia a
realidade, o cinema cria realidades próprias, coerentes em sua estrutura
narrativa, significando que filmes criam suas próprias linguagens, sistemas e
quadros próprios, nos quais são embutidos contextos específicos de ‘espaçostempos’ e grupos sociais.
Na perspectiva do pensamento
em torno da Potência do Falso, ideia cara a Deleuze, as narrativas funcionam
sempre como fabulações. Esses diversos autores entendem que as imagens criadas
vão além da ideia de uma representação/apresentação, ampliando sua forma para
imaginação. É por isto que Gonçalves e Head (2009, p. 17) afirmam: “em vez de
criarem um possível realismo, abrem caminhos para fabulações, para a ficção
como formas de aceder a um conhecimento.” Ou seja, a capacidade imaginativa,
coloca a nós, que produzimos imagens ou textos, a criar fabulações e narrativas
acerca de qualquer situação. Somos, sempre, muito mais do que simples
consumidores de imagens e textos, já que as usamos – no sentido que a esta
palavra dá, Certeau (2014) – e com isto, movimentamos processos criativos de
toda ordem, sobre nós mesmos e os outros, com que compartilhamos os ‘espaçostempos’ cotidianos.
Assim,
temos trabalhado com a ideia de que o cinema é criador de um universo próprio
acerca de uma circunstância e o meio em que se produziu. A partir dessa ideia,
de que existem interferências na criação das obras fílmicas e da dificuldade de
representação do real, conversamos em torno das obras cinematográficas
entendendo que precisam ser considerados os ‘espaçostempos’ de sua criação.
Na
pesquisa com a qual estamos envolvido[‡‡‡] 9 à medida que ‘vimosouvimossentimospensamos’
um filme deixamos que ele nos interrogue – com suas imagens, sons, narrativas –
e acerca delas conversamos entre nós e com os docentes e discentes que
participam da pesquisa. Deste modo, entendemos que temos todos esses elementos
do filme, já falado anteriormente como intercessores, “personagens
conceituais”, ideia apropriada na pesquisa, por nossa orientadora Nilda Alves
(2012), a partir de uma ideia que encontramos em Deleuze e Guattari (1992), que
nos explica:
os personagens conceituais
são, assim, aquelas figuras, argumentos ou artefatos que entram como o outro –
aquele com que se ‘conversa’ e que permanece presente muito tempo para que
possamos acumular as ideias necessárias ao desenvolvimento de conhecimentos e a
compreensão de significações nas pesquisas que desenvolvemos. Esses personagens
conceituais aí têm que estar, para que o pensamento se desenvolva, para que
novos conhecimentos apareçam, para que lógicas se estabeleçam. (Alves, 2012, pp.
12-13).
Entendemos
que a tessitura das conversas provocadas pelas narrativas sustentadas por
imagens e sons nos filmes, trazem possibilidades de criações múltiplas a partir
das relações diversas entre o que foi ‘sentidovistoouvidopensado’
e as experiências individuais e coletivas dos que participam dos processos da
pesquisa, na busca de um pensamento partilhado, fazendo surgir ‘conhecimentossignificações’ novos.
Acreditamos que a partir desse artefato cultural e tecnológico seja possível ‘sentirverouvirpensar’ as tantas
experiências vividas nos diversos cotidianos escolares e como neles se criam
processos curriculares acerca da questão estudada.
Na pesquisa
trabalhamos com a ideia de que nos cotidianos formamos inúmeras redes
educativas e com elas nos formamos. Essas redes se relacionam entre si e
permitem compreender melhor certas questões dos processos
curriculares existentes. As redes educativas que entendemos serem de ‘espaçostempos’ de
‘práticasteorias’ são assim
enunciadas: a da formação acadêmico-escolar; a das ações pedagógicas
cotidianas; a das políticas de governo; a das ações coletivas dos movimentos
sociais; a de criação e “uso” das artes; a das pesquisas em educação; a de
produção e ‘usos’ de mídias; a das vivências nas cidades, no campo e à beira
das estradas.
O
projeto se desenvolve com a realização das cineconversas
pelo grupo de pesquisa, junto a docentes em exercício e em formação[§§§] 10. Conversar com os filmes – com seus elementos
componentes – e acerca deles com os ‘praticantespensantes’
de cotidianos escolares assumindo-os como “personagens conceituais” é convocar
narrativas nas quais diversos modos de ‘sentirverouvir’,
‘praticarpensar’ currículos, de
sentir o mundo e os outros que nos fazem compreender modos re-existir nas
condições de migrantes, que vez ou outra, também somos.
Nas cineconversas, assistimos vários filmes
em torno do tema que pesquisamos, buscando melhor compreender como se inserem
no ‘fazerpensar’ nas/das/com as
escolas. Nessa perspectiva, trouxemos para esta ‘conversa’ acerca de currículo
e migração, o filme brasileiro ‘Cinemas, aspirinas e urubus’, com direção de
Marcelo Gomes, lançado em 2004, e que nos permite trabalhar com os movimentos
migratórios.
Imagem 1:
Cartaz de divulgação11[****]
A
narrativa se passa no sertão nordestino em 1942. Traz a história de um alemão
que vem para o Brasil, um migrante, fugindo da situação na qual a Alemanha se
encontrava, de desemprego e iniciadora do que ficou conhecido como a Segunda
Guerra Mundial. Trabalha como representante da Aspirina da Bayer no Brasil e
monta uma estrutura ambulante, feita com um caminhão e artefatos que permitiam
a projeção de pequenos filmes - documentários que mostravam a aspirina como
excelente medicamento para uma série de doenças. Ele corta o sertão, visitando
pequenas cidades do interior do Brasil, passando esses filmes à noite e
vendendo seu produto.
O personagem alemão é
apresentado como boa gente, que adora aquela condição de suposta liberdade, com
todos os percalços de estar em terra estrangeira. Para suprir sua solidão, numa
de suas andanças ele oferece carona para um sertanejo, que se torna um
migrante, fugindo para São Paulo em busca de uma vida melhor, sem a miséria econômica
e as condições ambientais da região. No transcorrer do filme e nos inúmeros
acontecimentos cotidianos porque passam juntos – de necessidade de comida à
picada de cobra - os dois tornam-se amigos, em situações que mostram suas
diferenças, a partir de questionamentos de valores singulares de cada um.
Imagem 2 e 3: Cenas do filme Cinema, aspirinas e urubus: os personagens
principais e o caminhão.
Por ser tratar da história de migrantes, o filme
revela os contrastes e astúcias que cada um dos personagens estabelece na
convivência com os outros - pessoas e objetos - como artefatos e as bricolagens
(Certeau, 2014) possíveis a partir das várias culturas que estão em
convivência. Os contatos, no entanto, pela extrema pobreza – lembremo-nos:
trata-se do sertão nordestino - estão sempre marcados pela necessidade de
sobrevivência. Desse modo, o jovem nordestino, com seu linguajeio próprio, na
sua desterritorialização, busca saídas para a situação de opressão da seca, na
sua longa viagem para São Paulo e, misturado ao linguajeio do jovem alemão,
vendedor de aspirinas e fugindo da guerra, juntos, criam táticas (Certeau, 2014) que lhes permitem
sobreviver juntos.
A montagem da tela – um lençol –
em praças, transforma-se, sempre, em um acontecimento, de cidade em cidade, com
a ajuda do breu das cidades do interior naquela época. Os pequenos filmes
projetados mostram as ‘maravilhas do Brasil’, com foco na grande São Paulo (o
que encanta o nordestino com este sonho). Mostra ainda, as mazelas cotidianas,
exibindo pessoas que usam a pílula em busca do Fim para Todos os Males, slogan de vendas da aspirina. Ao término
do curta-metragem, uma fila de pessoas é formada junto ao caminhão para comprar
cartelas e mais cartelas desse medicamento.
Imagem 4 e
5: Outra foto do caminhão que carregava e uma cena da sessão noturna sendo
armada pela equipe técnica.
Cinema, aspirinas e urubus, permite transitarmos por ‘espaçostempos’
distintos, dilatados, imbricados, comprimidos (Deleuze, 2008), quando nos traz
dois conflitos de distintas dimensões referentes à existência que levam os
personagens à fuga de múltiplos ‘espaçostempos’
– da Alemanha ao sertão nordestino; deste a Amazônia, quando o Brasil entra em
guerra com o Eixo (Alemanha; Itália; Japão); do jovem nordestino que sonha, sem
saber como realizar, em ir para São Paulo para viver melhor. Mas o filme mostra
muito mais: a possibilidade de encontro de dois jovens de diferentes culturas
que vão se entendendo em suas tantas diferenças. E nesse encontro - bifurcado e
de entroncamentos - revela-se a arte (a possibilidade e a necessidade) de, nos`fazeressaberes` cotidianos – comer, conversar,
caminhar pelas caatingas, ouvir as notícias da guerra no rádio, ouvir músicas,
transar, rezar, seduzir a mulher, dirigir o caminhão, sentir a traição,
transitar em um ‘puteiro’, fazer contas, curar picada de cobra, ver cinema, ‘comprarvender’ aspirinas (roubá-las
também), - para, com táticas diversas, surgidas no instante (Certeau, 2014),
ludibriar as forças das pequenas estruturas de poder para evitar deportação,
migrar. Esses são movimentos e acontecimentos que se dão no inesperado e que
potencializa os modos de existir.
As conversas em torno do filme
Após a exibição do filme, dando sequência à
sessão de cineconversa, as conversas no grupo de pesquisa, com
docentes e discentes, tratam das afetações provocadas pelo filme em nossas
experiências e memórias despertadas pelas narrativas e poéticas das cenas e sequências que reúnem as questões que nos
interessa tratar, como as astúcias, os encontros, as maneiras de criar com os
cotidianos outros modos de viver,
entendendo as coordenações consensuais das ações e o reconhecimento do
Outro ou Outros como legítimos outros. Em se tratando de grupo de ‘docentesdiscentes’, nos faz ‘sentirpensar’ acerca de nossas ‘praticasteorias’ em sala de aula e nos
diferentes ‘dentrofora’ das escolas e
nas questões curriculares que emergem e devem ser provocadas na formação
docente. Esta provocação por meio dos consumos e usos dos filmes como artefatos
curriculares, sendo também artefatos de criação de narrativos por meio dos ‘docentesdiscentes’, tornando-os
protagonistas de suas criações curriculares e de narrativas audiovisuais.
Cenas do próximo capítulo
A experiência do cineconversas nos apresenta o cinema no domínio de uma
multilinguagem que se produz na base da
‘imagemsommovimento’, estando apto a “revelar ou a criar um máximo de ‘imagemsonsmovimentos’ diversos, e,
sobretudo, a compô-las entre si através da montagem. Há imagens-percepção,
imagens-ação, imagens-afecção, e muitas outras”, (Deleuze, 2008, p. 62). Estar
coletivamente investigando as questões ordinárias tratadas no cinema é
desvendar sensibilidades ocultas em imagenssonsmovimentos
criados nesta arte que produz o mundo, permitindo a criação de ‘espaçostempos’ que nos levam ao
exercício de alteridade.
As cineconversas podem ser tratadas como um dispositivo de
sensibilização a partir da percepção do outro que supera a ideia reducionista
do olhar para ampliar os sentidos que vão além do ‘verouvirsentir’ para evocar memórias de pele, memórias olfativas,
memórias de sabores, memórias de outros sons e
outra imagens. Com isto, ao conversarmos com os docentesdiscentes
que participam do
projeto, abre-se a possibilidade de ‘conhecersignificar’ experiências já vividas e da possibilidade de
outras experiências, ainda virtuais.
Observamos
com a experiência desse filme, em especial, que aborda questões de
estrangeirismo, astúcias e bricolagens nas relações entre os personagens e
na criação de modos de existir com a
"sessão do filme promocional da Aspirina"
-, que nossa prática no grupo de
pesquisa e nos nossos encontros nas escolas, de certo modo, se aproximam dos
dois personagens do filme com que trabalhamos neste artigo: nas cineconversas o cinema toma outra
proporção, já que os filmes são exibidos em ‘espaçostempos’ fora do cinema:
na salas de aula, projetados a partir de outro suporte – o vídeo – e de
artefatos mais ‘domésticos’ (o computador do grupo), sendo apresentados em
outra superfície, no nosso caso, a parede da sala.
Nestas
ações, as cineconversas desmistificam
os usos de artefatos tecnológicos, sendo apropriados como artefatos
curriculares que estão nos nossos cotidianos, e trazem as questões complexas
dos cotidianos, como os processos migratórios, a partir das experiências de
vida daqueles que circulam no ambiente escolar, como cada um de nós
experimentamos isto no grupo de pesquisa.
Dessa
forma, o que
fazemos é buscar compreender como a questão migratória aparece nas escolas, em
suas ações curriculares. Compreendemos
que o migratório está em nós (somos todos migrantes ou temos sangue de
migrantes - percebendo como isto se deu na história), que o cinema tem criado
realidades migratórias em filmes há muito tempo, conversamos com docentes buscando
saber acerca dos processos curriculares em que migrantes, migrações e suas
causas complexas aparecem na escola.
As cineconversas, desmistificam a ideia,
que temos que ser bom entendedor de cinema. O que as ações com as cineconversas provocam é evidenciar
nossas sensibilidades e atenção para
sensações e sentimentos, as vezes adormecidos pelas tensões cotidianas e nos faz perceber essas tensões também como
processo criativo, que é provocado pela
metodologia da `conversa`, numa ideia de horizontalidade.
Nossa intenção não é concluir
essa conversa, já que estamos em constante movimento, migrando entre
territórios, `espaçostempos`,
`fazeressaberes`, `conhecimentossignificações` e afetos.
O próximo
capítulo trata-se dos acontecimentos cotidianos, o aqui e agora, o inesperado,
improvisado, não controlado, como os próprios cotidianos e as pesquisas que
neles que se criam e com eles se conversam.
Referências
Alves, N. (2002). Redes
educativas, fluxos culturais e trabalho docente: o caso do cinema suas
imagens e sons. Financiamentos CNPq, FAPERJ e UERJ, 2012-2017. (Projeto de
Pesquisa). Tecer conhecimento em rede. Em: ALVES, Nilda. e GARCIA, Regina
Leite. (orgs). O Sentido da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, pp.111 – 120.
Andrade, M. (2006). Por uma filosofia
da educação a partir do conceito de tolerância. Rio de Janeiro: Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Doutorado em Ciências Humanas –
Educação (Tese).
Bobbio, N. (2002). Elogio da
serenidade e outros escritos morais. SãoPaulo: Unesp.
Certeau, M. (2014). A invenção do
cotidiano – artes de fazer. Petrópolis: Vozes.
Cinema, aspirinas e urubus. Direção: Marcelo Gomes. Brasil. 2005, cor.
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=filme+aspirina&oq=filme++aspirina&aqs=chrome..69i57j0l3.8065j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8>.
Acesso em: 14 nov. 2017.
Deleuze, G. (2008). Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34.
Deleuze, G.; Guattari, F. (2002).
Os personagens conceituais. In: Deleuze, G.; Guattari, F. O (2002) que é filosofia? Tradução Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Munoz. Rio de Janeiro:
Editora 34, 1992: 81-109. Mil Platôs:
Capitalismo e Esquizofrenia, Vol. 4. São Paulo: Editora 34.
Freire, P. y Shor, I. (1987). Medo
e Ousadia Os cotidianos do professor. São Paulo: Ed. Paz e Terra, Disponível
em: https://docs.google.com/document/d/0B_EJlHGqy14eaGZMY0ZZVDhQU09IQXkwRFlKaHB6UGpYaFZF/edit
Acesso em: 07/02/2020.
Foucault, M. (2005). A ordem do
discurso. São Paulo: Loyola.
Gomes, P. (2008). Cenários
para a geografia: sobre a espacialidade das imagens e suas significações. In: Rosendahl,
Z.; Corrêa; R. (Org). (2008). Espaço e
Cultura: pluralidade temática. Rio de Janeiro: EdUERJ.
Gonçalves, M. (2009). HEAD, Scott. Confabulações da Alteridade: imagens
dos outros (e) de si mesmos. In Devires
Imagéticos, a etnografia, o outro e suas imagens. FAPERJ. Rio de Janeiro: Ed.
7 Letras.
Guerón, R. (2011) Da imagem ao
clichê, do clichê a imagem: Deleuze, cinema e pensamentos Rio de
Janeiro/RJ: NAU Editoria.
Maturana C. (2002). Emoções e
Linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Ed UFMG.
Milesi, R. e Marinucci, R. (2003). Introdução. In: Refugiados: realidades
e perspectivas. / organizado por Rosita Milesi. Brasilia: CSEM/IMDH, Edições
Loyola.
Moreira, A. (Org). (2017). Religião, migração e mobilidade humana.
Goiânia: PUC – Goiás.
Oliveira, I. (2012) Currículos e Pesquisas com os Cotidianos: o caráter
emancipatório dos currículos ‘pensadospraticados’ pelos ‘praticantespensantes’
dos cotidianos das escolas. In: Ferraço, C. E. y Carvalho, J. M. (Org.). Currículos, Pesquisas, Conhecimentos e
Produção de Subjetividades. Petrópolis: DP etAlli.
Ruge, L.; Forero, N. (2017). No final, tudo vai dar certo. In: A
presença do migrante no Rio de Janeiro: O olhar do imigrante e do refugiado.
Pastoral do Migrante e Coletiva Rede Migração Rio. pp. 20 – 23.
Santos, B. de S.
(2012). Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das
emergências. Revista Crítica de
Ciências Sociais. Número: 63, colocado online no dia 01 Out. 2012.
Acesso em: 8 Abr. 2018. Disponível em:
<http://journals.openedition.org/rccs/1285>; DOI :
10.4000/rccs.1285. 2012, p. 237-280
Virilo, P. (2009). Préface. In Virilio, P. Depardon,
Raymond et alii. Terre natale – ailleurs
commence ici. Actes Sud. Paris: Fondation Cartier pour l’art contemporain.
*
Geógrafo pela UFRJ. Especialista em Tendências
do Ensino de Geografia. Mestre em Processos Formativos e Desigualdade Social - FFP/UERJ. Doutorando em
Educação. Coordenador Pedagógico e Professor em escolas públicas e privadas do
Rio de Janeiro.
** Pedagoga - UFRJ. Mestra e Doutorando em Educação (UERJ). Bolsista
Faperj. Professora mediadora do Consórcio CEDERJ/UERJ.
*** Doutorando em Educação - PropEd/UERJ. Linha de pesquisa
"Cotidianos, redes educativas e processos culturais" junto ao GRPesq
Currículos, redes educativas, imagens e sons. Desenvolve projeto nas áreas das
artes e tecnologias. Bolsa Faperj.
1[‡] Nas pesquisas com os cotidianos fomos percebendo que as dicotomias
necessárias à criação das ciências na Modernidade, representavam limites ao que
precisávamos criar. Com isto passamos a escrever assim os termos dessas
dicotomias: com os termos juntos, em itálico, entre aspas simples, colocando no
plural os termos e muitas vezes invertendo os termos tal como estamos
habituados, a pronunciá-los, pelas marcas que os conhecimentos hegemônicos deixam em nós.
As palavras grafadas, juntas são para nós, do grupo de pesquisa
nos/dos/com os cotidianos, um modo de perceber essas ideias que circundam os
processos educativos nos cotidianos, como algo fluido, híbrido, não
dicotomizada. Portanto, onde for encontrado palavras juntas e grifadas é porque
estamos entendendo seus significados como uma relação de confluência. Este modo de escrever estes termos juntos e
grafados – tais como os termos aprenderensinar, práticateoria, praticantespensantes, espaçostempos, conhecimentossignificações,
docentesdiscentes,
entre outros – é utilizado em pesquisas nos/dos/com
os cotidianos e serve para nos indicar que, embora o modo dicotomizado de criar
conhecimento na sociedade Moderna tem sua significação e importância, esse modo
tem significado limites ao desenvolvimento de pesquisas nessa corrente de
pensamento.
2[§] Este conceito é utilizado por Alves, porém a autoria do mesmo é de
Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992), de quem a autora se apropria para
entender que, para além de “fontes”, as imagens, narrativas e sons permanecem
muito tempo conosco para que se produzam ideias e conceitos.
3[**] Processos curriculares e movimentos migratórios: os modos como questões
sociais se transformam em questões curriculares nas escolas’, com apoio CNPq,
Capes, Faperj, UERJ (entre 2017 e 2022) e coordenação
de Nilda Alves.
4[††] Lembramos que nosso projeto comum, no grupo de pesquisa – “Processos
curriculares e movimentos migratórios: os modos como questões sociais se
transformam em questões curriculares nas escolas” (2017-2022) – inclui um
movimento a que chamamos, desde o projeto anterior, de ‘cineclubes’.
Recentemente, por proposta de uma das componentes do grupo – Rosa Helena
Mendonça – passamos a chamar este movimento de ‘cineconversas’, pois de fato, sem seguir a tradição de cineclubes, o movimento
que realizamos tem as ‘conversas’ em torno de temáticas introduzidas pelo
processo de ‘verouvirsentirpensar’
os filmes como lócus central dessas
pesquisas. Assim, não se trata de conhecer os filmes em si e discuti-los em sua
historicidade, construção técnica, como obra artística de um criador etc – o que caracterizaria os processos realizados em um
cineclube – mas de tê-los como iniciador de pensamentos que permitam as
‘conversas’. Estas são conduzidas, tanto para a versão de realidades de
migrações – em ocasiões diferentes, em ‘espaçostempos’
diversos, por causas diferenciadas – que os filmes permitem, como, em especial,
para como essas idéias permitem pensar processos de
acolhimento de crianças e jovens – bem como seus pais – nas escolas brasileiras.
Partimos das ideias que os ‘praticantespensantes’ das pesquisas como criações desses
processos que conhecem ou que pensam ser possíveis de realizar.
5[‡‡] Como vimos, pessoas migram por diversas razões e esse pode ser um
movimento voluntário ou provocado. Quando elas partem de suas casas ou país de
forma obrigada, esses são denominados migrantes forçados e podem solicitar a
situação de refugiados no país para onde migram.
6[§§] Consiste na aversão a cultura estrangeira que pode causar perseguições,
ataques ou até morte de imigrantes estrangeiros.
7[***] O acontecimento
para Deleuze é um dos elementos dos princípios característicos da
multiplicidade, que são hecceidades (quer dizer, individuações sem sujeito); é
relação de movimento e de repouso entre moléculas e partículas, poder de afetar
e de ser afetado (DELEUZE; GUATTARI, 2002).
8[†††] “Acontecimento – é preciso entendê-lo não como
uma decisão, um tratado, um reinado ou uma batalha, mas como uma relação de
forças que se inverte, um poder confiscado, um vocabulário retomado e voltado
contra seus usuários, uma dominação que se debilita, se distende, se envenena a
si mesma, e outra que entra, mascarada. As forças em jogo na história não
obedecem nem a um destino, nem a uma mecânica, mas efetivamente ao acaso da
luta. Elas não se manifestam como as formas sucessivas de uma intenção
primordial; tão pouco assumem o aspecto de um resultado. Aparecem sempre no
aleatório singular do acontecimento.”(Foucault, 2005).
9[‡‡‡] O projeto tem por título “Processos curriculares e movimentos
migratórios: os modos como questões sociais se transformam em questões
curriculares nas escolas”, com a coordenação de Nilda Alves e financiamento
CNPq, CAPES, FAPERJ e UERJ (2017-2022).
10[§§§] Os diversos membros do grupo de pesquisa, individualmente e coletivamente,
desenvolvem inúmeras ações para o estudo da questão da migração e o modo com
que se relaciona aos processos curriculares. Realizamos um vídeo – sob o título
“Os muitos mundos das migrações e os currículos escolares - iniciando o
projeto” - acerca inúmeras dessas ações de preparação do grupo de pesquisa que
pode ser visualizado em: https://vimeo.com/218818085